
A cada passo do impeachment, a promiscuidade entre poderes se avoluma. É tudo em nome do golpe. Parece uma marcha irreversível.
Gilmar Mendes, antipetista declarado e que não hesita um segundo em contrariar tudo aquilo que possa beneficiar Lula ou Dilma, afirmou agora que não vê a necessidade de realização de novas eleições presidenciais.
“Não vejo razão para novas eleições. Como também não vejo razão e na verdade não tem previsão para plebiscito em matéria de emenda constitucional, não há previsão na legislação que regula o tema”.
Significa dizer que mais uma vez ele se posicionou contra o PT e aproveitou para confirmar Temer no poder:
“Muitas dessas lutas e dessas referências que se faz, plebiscito e novas eleições, acho que a gente tem que fazer uma leitura mais política que jurídica. Porque, claro, em caso de impeachment, o presidente é substituído pelo vice. Então, me parece que se confirmando o impeachment, a solução é a assunção do vice e a vida segue”.
Este golpe tem cartas marcadas e uma delas é este ministro da Suprema Corte que se reúne num sábado, na calada da noite, com o presidente interino para tramar não se sabe o quê; ele recebe Renan e Jucá e aliados de Temer pouco tempo depois da revelação das gravações de Sérgio Machado para um café da manhã em que se discute “as dificuldades nas próximas eleições”.
E o Brasil vai se acostumando com a promiscuidade e os vernizes constitucionais.
No fundo, o que querem é a destruição do PT. Primeiro com a queda de Dilma e depois com a prisão do Lula. E tem petista concordando que a Dilma não deve propor um plebiscito para novas eleições, caso retorne ao poder.
Talvez por isso a esquerda tenha se perdido no caminho. Maior do que o mandato de Dilma e a sua volta é o restabelecimento da democracia. Isso explica o número de pessoas que, mesmo não apoiando o governo Dilma, se dispuseram a contestar o golpe.
Todo aquele que concorda com Gilmar Mendes e entende que o plebiscito por novas eleições não é viável, apoia indiretamente o golpe. Pois seria esta a única maneira de vencer o governo golpista de Michel Temer.
De igual para igual, apoiadores e adversários de Dilma não lutam. Ontem foi mais um exemplo de como o golpe caminha a passos largos no Senado. Não custa perguntar também por que a presidenta Dilma ainda não divulgou a Carta aos Brasileiros. Enquanto isso, os seus adversários internalizam um mote impiedoso: tudo em nome do golpe.
É uma pena ver o que está acontecendo em nosso país.As denúncias feitas por Sérgio Machado em sua delação precisam ser investigadas. Tantas informações não podem ser abafadas.
Querem passar um rolo compressor. Pra que? Seria melhor para o país juízes imparciais e investigação séria para os denunciados pelo Machado e Odebrecht.