
O amigo leitor e a cara leitora podem fazer uma busca na internet com os termos “apesar da crise” e vão constatar que “apesar da crise” há notícias muito boas; digamos que esta é a cantilena da moda.
Antes que os policiados leitores adentrem no texto, preciso dizer que não sou descolado da realidade, muito pelo contrário, vivo-a na pele.
O discurso midiático foge da verdadeira discussão sobre a recessão mundial; antes o governo o fez, passivo, sobretudo quando deveria explorar a situação que viria e suas consequências para a vida do brasileiro.
O governo cometeu o erro de não informar, por exemplo, que segurava o preço dos combustíveis e estas benesses eram provisórias.
Não informou.
Preferiu manter a ideia de que tudo estava bem para agradar esta mesma elite que agora vocifera contra si.
A discussão sobre a recessão que afetaria o Brasil talvez aplacasse os ânimos.
Assim, a antecipação do problema e o debate público talvez acontecessem de forma mais responsável no seio da sociedade.
Entretanto, o governo errou em estratégia de comunicação e política.
Cedeu espaço para a crise, que é real, mas agigantada no imaginário do brasileiro por aquilo que ele sente no mercado, mas, sobretudo pelo que lê, ouve e assiste na imprensa.
Numa pesquisa simples dos termos “apesar da crise”, o leitor pode encontrar notícias interessantes e, na maioria das vezes, discrepâncias.
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Analisando profundamente, é possível até dizer que a imprensa internaliza um pessimismo ao antecipar a expressão “apesar da crise” e somente depois dar a boa notícia.
Exemplos têm-se aos montes.
No site Exame.com de 28/07, a manchete “11 cidades que estão gerando empregos apesar da crise” se percebe o pessimismo de que falamos.
Os jornais estampam capas que mais amedrontam do que informam.
Este é o resultado do complexo de insucesso do brasileiro disseminado na imprensa. Parece que aqui nada dá certo ou que estamos piores do que o restante do mundo.
E enquanto o governo não toma as rédeas, enfrenta a recessão com medidas mais efetivas na economia (o Levy não resolve nada), abre-se espaço para esta produção de sentido que malha em ferro frio e produz a cantilena do “apesar da crise”.
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